24 março 2015

Ver o jogo pelo resultado ou as incidências tomando o Clássico

Vejo e leio mais amiúde a Imprensa estrangeira do que a tuga nas consultas programadas online ou simplesmente no Twitter porque o mundo não acaba em Badajoz e muito menos se limita ao Terreiro do Paço e quintas adjacentes das coutadas centralistas. E sigo de perto mais as incidências das ligas espanhola ou inglesa, entre outras, do que as malandrices da faz de conta cuja liga tem contas por fazer e, como no País, ninguém em Tribunal!
 
Obviamente, vi o Clássico e, como culé mas sem vendas nos olhos, registei que o Madrid foi melhor do que o Barça - tal como na 1ª volta, tal como na época passada - apesar de, no final, o Barça ter falhado a goleada. Houve muito mais Madrid, de um nível altíssimo e é isso que para a Imprensa afecta conta. Na devida proporção e não na proporção da Imprensa abjecta que, fosse um clássico tuga, choraria ainda mais baba e ranho. O Madrid teria ganho porque na maioria do tempo, e até ao inopinado 2-1 de Suarez, mandava, ameaçava era rei e senhor no Camp Nou. Mas o futebol é assim, nem sempre ganha o melhor por muito que sejam igualados e sejam dos melhores do mundo, todos os resultados são possíveis, embora pesasse a folga europeia da semana para uns e o fardo de um jogo exigente para os catalães (notável jogo com o City).
 
Há quem pegue por aí mas não se fique por aí. E, de resto, atendendo ao já visto, os +4 pontos do Barça não são nada, como diz bem Sérgio Ramos. Tal como ao FC Porto em Abril, Madrid e Barça jogam o futuro interno pendentes dos duros duelos da Champions; estes, olhando para o passado recente, até dão perspectivas de o Madrid ser apeado e o Barça continuar, olhando o registo histórico numérico.
 
Cá na parvónia das luminárias sentadas nas sinecuras de Lisboa a coisa seria do tipo "Merecia mais" mas lá não estão com meias medidas nem chamaram nomes ao árbitro (que poupou a expulsão a Carvajal por duplo amarelo inapelável). O Madrid perdoou e é verdade, a coisa podia perfeitamente ter corrido para o seu lado, mas no final não aconteceu goleada pelos imponderáveis da bola e, tudo somado, o Barça ganhou bem, apesar de o Madrid ter sido, em larga fatia, melhor. Como são igualados, tudo pode acontecer: na 1ª volta, perdendo 3-1, o Barça marcou a abrir e podia ter ampliado 2 ou 3 vezes antes do 1-1 de gp estupidamente concedida. Não constou, então, que se deixasse de ver o jogo pelo resultado, que pareceu claro e no final foi claro; mas as ocasiões iniciais desperdiçadas, uma de Messi a 3 metros de Casillas para o 0-2, também teriam dado um avanço quiçá insuperável para o Barça. É assim. E como sigo atentamente os jogos guardo, para além dos resultados, mais do que as molduras dos belos quadros que nos deixam, ainda que este Clássico tenha sido dos piores dos últimos anos.
 
Ou seja, dá jeito ver os jogos pelo resultado ou pelas incidências. Ainda assim, a estupidez natural da pasquinagem tuga não dou desconto nenhum, à do País vizinho felizmente bem repartida entre os dois pólos absorventes e galácticos, dou o mérito de alto profissionalismo fixado por cima da especulação gratuita e da cegueira clubística deformativa da informação assertiva e bem fornecida.

Não se pense, porém, que também no valor e expressão profissional dos jornalistas, muitos dos quais conheço há anos, as coisas deixam de ser igualadas para o bem e o mal. O Madrid pode ter jogado muito bem, e asfixiou o Barça por uma hora, mas também os seus adeptos não deixaram de importunar (dizem insultar) os seus jogadores: lá como cá... E quanto às crónicas e opiniões, se ganhar está tudo bem, se perder é o fim do mundo. Para Barcelona a vitória foi merecida, na 1ª volta também era o fim do mundo tendo o Barça igualmente "perdonado". Es la vida. Mas pede-se equilíbrio e categoria que mesmo o contexto apaixonado do futebol impõe aos profissionais, perdoando-se um excesso ou outro devidamente contextualizado. Vale que para lá de Badajoz há jornais desportivos que assumem as dores e as cores dos seus, da Corunha a Valência, passando pelo 2-2 de Madrid e Barcelona.

Por cá há os envergonhados que não saem da cepa torta mesmo dando uma no cravo e outra na ferradura e os lacaios assumidos mas que se dizem equidistantes e equilibrados fomentando o terror informativo aos que não constam do rol de prebendas a distribuir pelos capitolinos. Também por aí a Espanha é relativamente bem descentralizada, autónoma e determinada e Portugal meteu-se no buraco conformista e conveniente e esgota-se na implosão suicida que mesmo quem arriba a St. Apolónia faz por reforçar.

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